quarta-feira, 21 de novembro de 2007

BUENOS AIRES - Mi Buenos Aires Querida


"...e senti Buenos Aires. Esta cidade que acreditei ser meu passado, é meu porvir, meu presente...eu estava sempre (e estarei) em Buenos Aires. ( Luis Borges)


24/02/04

Já estamos navegando nas águas do Rio da Prata. O navio está bem mais estável que ontem. As águas são barrentas, não há ondas, nem o rastro de espuma que nos encanta. Do convés, já se observam embarcações de pesca e pequenos cargueiros ao longo do rio. Não vemos as margens, mas sabemos que não estamos mais navegando em águas marinhas. O sol está quente e o dia muito claro.

Impressionante como conseguem atracar um navio de 200 metros de comprimento tão encostado na amurada do cais. Eu não consigo encostar o meu minúsculo Ford KA tão coladinho ao meio-fio. O porto de Buenos Aires é enorme e muito movimentado e fica bem perto do centro. Andamos um pouco, já sentindo o jeito moderno da cidade. Largas avenidas, (muito largas por sinal), pessoas andando apressadas. Trânsito intenso, mas sem congestionamentos. Não demoramos a pegar um táxi, já treinando nosso portunhol em grande estilo. Rodamos pelas avenidas movimentadas vendo os plátamos centenários, que são maioria na arborização da cidade. As praças são inúmeras, coloridas pelas velhas paineiras inteiramente floridas. O dia claro encheu Buenos Aires de luz, só pra nos receber.
Trocamos alguns pesos em uma casa de câmbio e saímos a pé em direção à Casa Rosada. É realmente o maior marco da cidade, plantada na lateral de uma imensa e bonita praça cheia de turistas, vendedores de lembrancinhas e estudantes namorando, conversando, tomando sorvete.
A Catedral Metropolitana tem uma arquitetura belíssima, foi construída no início do século XVII, em estilo neoclássico. O piso, que está sendo restaurado, é uma composição floral de mosaicos minúsculos e coloridos. Lindíssimo! O túmulo do General José de San Martin, o herói da independência das Províncias Unidas do Prata, é guardado 24 horas pelos jovens soldados da Guarda Nacional.
Caminhamos pela Avenida 9 de Julho (dizem que é a mais larga avenida do mundo) até o imenso obelisco de 67 metros de altura. A cidade é plana, o que nos convida a caminhar.
Pegamos outro táxi e fomos pra Recoleta, que é um dos bairros mais nobres da cidade, com excelentes restaurantes, cafés, antiquários, bares, discotecas... Entramos no famoso Cemitério da Recoleta onde caminhamos entre os mausoléus adornados com esculturas antigas. Não há um só túmulo baixo. Todos têm nomes das tradicionais famílias portenhas. Seguimos um grupo de turistas alemães, até o túmulo de Evita, cheio de recados e flores plásticas mostrando que a mulher de Perón ainda tem inúmeros e ardorosos fãs na Argentina. Todos tiram uma foto diante dele. Saímos do cemitério e entramos na Basílica Menor de Nuestra Señora Del Pilar, em estilo barroco, do século XVIII. Rezamos um pouco perante altares de ouro com imagens bem típicas da cultura espanhola.

Caminhamos preguiçosamente por avenidas e ruas, sentindo o calor do sol e da cidade.

Voltamos ao navio, fizemos um lanche rápido e partimos para o show do Señor Tango. Indescritível! A casa noturna fica ao sul da cidade e tem capacidade para mais de mil pessoas. São três andares, com colunas e molduras de fotos iluminadas por microlâmpadas, paredes vermelhas e peças artísticas retratando a história do tango. A casa já estava cheia quando chegamos. O show é coisa de cinema: cavalos brncos montados por índios começam a representação da saga dos povos do Prata. As dançarinas são lindíssimas, os belos portenhos com roupas deslumbrantes transitam pela casa compenetrados em seu trabalho. Os garçons de chapéu e avental comprido trazem o vinho da casa, água e refrigerantes. A voz do “cantante” Fernando Solera é privilegiada. Tudo é feito para encantar o turista. Hollywood está presente em alguns quadros do espetáculo: uma linda mulher com asas diáfanas desce do teto, pendurada em uma gangorra, lembrando a cena mais famosa de Moulin Rouge. A orquestra de bandonions, as gêmeas louras, os dançarinos habilidosos e toda a dramaticidade do tango fazem parte do show. Vimos fotos do astro maior da casa, Fernando Solera (ele é também o dono) com Hebe Camargo, Bill Clinton, Airton Sena, Pelé, Michael Shummaker, Liza Minelli, Bill Gates e tantos outros famosos. Recebemos uma taça de champanhe para um brinde e com a música "Dont cry for me Argentina" e todo elenco no palco, acontece o final do magnífico espetáculo. É mesmo de encher os olhos e a alma.
Pensamos em esticar até à Recoleta para uma “balada” (como dizem por lá), mas a exaustão nos venceu. Voltamos para o navio, onde o buffet da meia-noite nos levou a comer “horrores”: frutas, sanduíches, tortas, doces .... Quantas calorias, meu Deus!

25/03/04

Dia lindo, céu claro, sol forte! Após um café “dos deuses” descemos do navio e rumamos para a Calle Florida onde passamos o dia a ver vitrines, passeando entre barracas de flores e gente apressada, observando como são e como vivem os portenhos. Uma multidão anda pelos quarteirões fechados carregando sacolas e embrulhos. A Galeria Pacífico é um shopping que ocupa um quarteirão inteiro. Agasalhos, bolsas, perfumes, casacos de couro, moda refinada. Os preços de alguns artigos são bem vantajosos, outros nem tanto. Comprei suéteres e perfumes, um livro sobre pássaros da região e alguns mimos para mim... Eu mereço! Comemos umas empanadas divinas, acompanhada por um gigantesco capuccino numa cafeteria super charmosa, observadas de perto por um batalhão de portenhos com seus ternos bem cortados e perfumados excessivamente. Os homens são bonitos e sentem-se obrigados a olhar e gracejar para todas as mulheres, principalmente turistas, que cruzam seu caminho, independente da faixa etária. Chega a ser meio cômico.
Buenos Aires me surpreendeu. A cidade é linda, o povo alegre e hospitaleiro, a comida excelente... E o astral da cidade?

Com certeza voltarei em breve para ver tudo que ficou sem ser visto pelo pouco tempo que tivemos. Acredito que uma semana seja o tempo ideal para se conhecer e sentir essa bela cidade.

Hoje, lendo Jorge Luis Borges bateu uma saudade gostosa de Buenos Aires....

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