quarta-feira, 23 de julho de 2008

ILHÉUS - Entre mortos e feridos salvaram-se todos

Logo cedo anotei no Blog as primeiras impressões de Ilhéus... A RCV passou pelo hotel por volta de 8 horas e saiu catando hóspedes em vários outros para iniciarmos nosso passeio do dia. Pela rodovia BA001, fomos rumo a Canavieiras. A Reserva de Una é linda, um bom trecho de Mata Atlântica ainda abriga micos-leões dourados e outros pequenos mamíferos, como o belo quati que atravessou a estrada todo faceiro, ostentando sua comprida cauda listrada.
Ainda se viam bandeirinhas penduradas pelas ruas da cidade de Una, restinhos das animadas festas juninas da região. A cidade é pequena e parece muito pobre. O Ribeirão das Varas corta o município e me pareceu já bastante poluído. Pelo caminho os coqueirais, plantados há poucos anos e já produzindo, outros ainda bem pequenos perfeitamente alinhados. A idéia é começar a se plantar outras coisas para substituir o cacau, quase que totalmente destruído pela "vassoura de bruxa". Algumas seringueiras jovens, já foram sangradas e os copinhos com o latex podiam ser vistos da estrada. A Praia de Atalaia, é larga e, como todas as praias bahianas, muito bonita. Perde-se de vista, de ambos os lados. Enorme e quase deserta. Carros, motos, tricíclos e cavalos circulam livre e impunemente entre os poucos banhistas desavisados.
Ficamos ali de bobeira, comendo uns "catados" (tira-gosto) até a hora de embarcamos numa velha chalana. Era muita gente e alguns ficaram de pé. Sugeriu-se que algumas pessoas fossem de barco rápido (uma pequena canoa de alumínio). Fiquei com medo e voltamos à velha chalana. Logo de saída o barco não quis pegar e o piloto abriu a tampa do motor pra ver o que tinha acontecido. Tudo enferrujado! Havia uma fagulha que o Danilo mostrou pro sujeito que, imediatamente, bateu a mão e apagou o foguinho. Ficamos meio inseguros mas... Ele conseguiu dar a partida no motor e...vamos em frente. O Rio Pardo, nasce em Minas Gerais e vem desaguar aqui. Lindo. Largo. Muito manso. A área de mangue é uma das maiores do Brasil e está muito bem preservada. Navegamos uns 30 minutos e aí a embarcação enganchou num toco e parou de vez. Éramos umas 30 ou 40 pessoas, crianças, velhos e senhoras com dificuldade de locomoção (essa era eu). Com uma certa dificuldade o piloto livrou-se do tronco e lá fomos nós. Garças voando sobre o barco buscavam abrigo abrigo nos manguezais.
Improvisando uma rampa com um dos bancos de madeira, o rapaz do barco nos ajudou a desembarcar na Ilha das Garças. É uma ilha deserta, coberta de vegetação de mangue e com alguns pequenos poços de lama negra e mal cheirosa. Enxofre, segundo o guia Eduardo. Alguns se esfregaram com a tal lama na esperança da juventude eterna e da beleza absoluta. Só mesmo turista, pra fazer essas asneiras! Andamos um pouco e como a maré começava a subir nos encaminhamos para a chalana. Só que agora ela pifou de vez.... Vai precisar de ser rebocada. Sentamos no chão de areia, como náufragos à espera de socorro.... Liguei pro meu filho mais velho para me despedir e fazer as últimas recomendações. O Danilo estava travado!
Veio o primeiro barquinho, uma turma de sete pessoas foi levada e no segundo nós embarcamos. A maré continuava a subir e a tal ilha ficará encoberta logo, logo. As pessoas foram pra dentro da chalana esperando o talentoso resgate bahiano. Tá lento, mas chega....
O vento e a maré enchendo jogava água em todos os tripulantes do pequeno barco. O piloto, um negro de barbas brancas, pediu que eu passasse pra outro banco. Claro que não! Se eu não me equilibro em terra firme, imagine naquela canoa balançante! E tome água na cara, na roupa, no cabelo (ai, minha chapinha!... Vou pedir indenização)
Depois de 20 minutos chegamos ao porto improvisado. Um menino apavorado se agarrava à mãe e batia queixo, uma senhora mais velha estava totalmente tensa e o Danilo quase explodindo... Consegui desembarcar sem maiores problemas, mas continuamos preocupados com os que ficaram. Tomamos café e conhaque e conseguimos nos secar um pouco. Mais de uma hora depois todos chegaram. O desconforto com a situação era visível. Crianças pequenas embrulhadas em toalhas, pessoas molhadas e com cara de alívio por sobreviverem à grande aventura...
Ainda visitamos um pequeno museu (Shopping do Povo) onde está exposta a história do município, seus objetos e fotos, documentos e lembranças. O sorvete de cajá e a s balas de marfim ( bala delícia) deram um pouco de alento aos náufragos resgatados. Estou com medo de cobrarem mais caro pelo passeio, uma vez que as emoções foram fortes. Eu pago! Valeu!


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Um comentário:

Renata de Melo disse...

Aê Ju!!
Um filósofo francês disse algo parecido: o homem viaja o mundo não para conhecê-lo, mas para arrancar dele a maior quantidade de adrenalina possível!
Valeu!