quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

MACEIÓ - E o Rio São Francisco vai bater no meio do mar...

MERCADO DE PEIXE DE PIAÇABUÇU VISTO DO RIO
MENINAS RIBEIRINHAS

ESSA EMBARCAÇÃO É TÍPICA DA FOZ DO SÃO FRANCISCO





VEGETAÇÃO DO MANGUE, ÁGUA DOCE E SALGADA





LAGOA DE ÁGUA DOCE




GADO SOLTO NAS DUNAS A PROCURA DE ÁGUA E ALIMENTO







Quarta-feira amanheceu com um tempo psicológico. Traduzindo: Aquelas nuvens escuras e ameaçadoras são apenas um efeito psicológico, que deve passar com pensamento positivo dos passageiros do ônibus da WS que nos levará à Foz do Rio São Francisco... São 136 quilômetros pela AL 101. Canaviais a perder de vista. Coqueirais idem. Vários caminhões que conduziram os bóias frias para o sofrido corte da cana, aguardam no meio da plantação. Os homens e mulheres, protegidos por chapéu e panos enrolados nos braços e pernas, cortam, com a foice, grandes porções da cana, amontoando no chão enegrecido pela queima recente. Com certeza esse é um trabalho brutal. O forte calor, a aspereza cortante das folhas da cana e a necessidade de se produzir muito, leva o trabalhador dessas lavouras à exaustão, muitas vezes fatal. Ao contrário, o produtor de cocos não se mata para cultivar e colher os cocos que serão comprados pela Sococo, compradora certa de toda a produção local. São milhares de coqueiros enfeitando de verde a paisagem que vemos pela janela do ônibus. A chuva fina e o sol querendo vencer a tal batalha psicológica, acaba por nos brindar com um belo arco íris. O LINDO avisa que se alguém precisar ir ao banheiro do ônibus só pode fazer o número um. Caso haja necessidade de se implementar o número dois, basta avisar que o MMCC será providenciado imediatamente para se evitar maiores inconvenientes. MMCC quer dizer mar, mato, cana ou coqueiro. Foi uma risada só. Ruma ao sul, passamos pela Barra de São Miguel, Praia do Gunga, Dunas de Marapé e Coruripe, antes de avistar o município de Piaçabuçu. Ruas estreitas, casinhas de pouca altura, alinhadas na calçada, uma coladinha na outra. O povo é pobre, basicamente composto de pescadores e agricultores. Atravessamos o Restaurante Manapá, que é uma bela estrutura, com jardins, árvores frutíferas e várias figuras em cerâmica, enfeitando os caminhos e gramados. Embarcamos em um dos dois barcos ancorados no píer do restaurante. E só então nos demos conta que estávamos no Velho Chico.

Como esse Rio me traz recordações! Vovô Ricardo comandou a gaiola Wenceslau Brás. Miriam morou por uns tempos em Pirapora. O papai e o tio Asdrúbal foram várias vezes pescar em Três Marias com o José Ricardo. O Leo tem paixão pelo Rio e se revolta ao saber da transposição que teremos de engolir, empurrada goela abaixo . Em 1996 atravessei, junto com o Danilo, essas mesmas águas verdes e mansas, entre Penedo e Juazeiro numa grande embarcação. dessa vez optamos pela parte de baixo do barco por causa do sol forte e do vento. Aos poucos vamos deixando para trás o vilarejo, as casinhas, o mercado municipal e a Igreja. As lavadeiras, na ponta da escadaria e com água pela cintura, cumprem a tarefa de lavar a roupa nas águas do rio. Minúsculas cabanas cobertas de sapé, servem de ponto de apoio para os pescadores, e aparecem, vez ou outra, entre a densa vegetação, um misto de restinga e mangue, que abrigam várias aves voando assustadas com ouvirem o barulho do motor do barco. Algumas garças se limitam a nos observar. As ilhas podem ser vistas ao longe e também as dunas douradas, que afloram entre a vegetação e coqueiros de todas as formas e tamanhos.
Por uma hora e meia navegamos, em direção à foz do São Francisco, ouvindo músicas que tem o rio como tema. Ao alcançarmos as imediações da foz, onde o rio se lança no mar, a música tocada deu a dimensão exata da grandiosidade desse encontro de águas: Pompa e Circunstância. O desembarque se deu com tranquilidade numa área de dunas, onde a população local vende doces, biscoitos e artesanato, feito pelo povo simples do lugar. As lagoas de água doce se espalham entre os montes dourados de areia fina. Coqueiros isolados formam verdadeiros oásis. Os bois atravessando o areião lembram as desoladas paisagem do agreste nordestino. Longe, há quase três quilômetros, podemos ver terras que já pertencem ao estado de Sergipe. Andamos um pouco nas areias das dunas, chegamos no alto de uma delas para vislumbrar uma paisagem inesquecível. O majestoso rio desaguando no mar suas águas verdes e doces. O Rio São Francisco vai bater no meio do mar, diz a canção. A emoção é inevitável. Como não se emocionar diante de tanta beleza? De tanta grandiosidade? O banho na lagoa de água doce ameniza o calor intenso, Deitada na areia fina e com metade do corpo dentro d'água agradeci aos céus pela dádiva de poder desfrutar aquele momento único e que ficará para sempre em minha mente. Na volta, com a correnteza contra o barco a navegação foi um pouco mais lenta e demoramos quase duas horas para chegar ao píer.

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